quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As armas e os barões assinalados

Meu pai sempre foi adepto de castigos, digamos, criativos. Quando eu era criança e aprontava alguma, ele me punha sentada copiando trechos de Os Lusíadas. Minha irmã, que era mais novinha, tinha de fazer trocentas vezes a tabuada do, sei lá, 7. Meu irmão, o filho do meio, deve ter feito os dois tipos, português e matemática. Só podíamos sair depois de terminar, e cada um dos filhos tinha um caderninho próprio, provavelmente para, na hipótese de ficarmos de castigo ao mesmo tempo, não haver confusão em relação ao primeiro a cumprir a "pena".
Tenho de confessar que essa "criatividade" me rendeu um acerto no vestibular, uma pergunta sobre a métrica dos versos do Lusíadas. Fica fácil fazer a divisão quando vc tem várias estrofes da coisa decoradas na cabeça, sabe como é. Tenho 30 anos e ainda sei a primeira estrofe toda, apesar de ter descoberto só agora que Taprobana era o nome antigo do Sri Lanka (poxa, não tinha Google na época).
Lmbrei disso tudo porque meus pais, que estão em Portugal, visitaram o túmulo do Camões em Lisboa e nos enviaram uma foto. Já estive lá também e, sabe, fiquei mais emocionada do que quando fui ao cemitério de Père-Lachaise visitar o Jim Morrison, e olhe que eu tinha 16 anos e estrelas do rock são muito importantes na vida das pessoas quando se tem 16 anos.
Camões, grande Camões.
Meu filho tá perdido.


2 comentários:

fátima disse...

Pra ver como castigos, às vezes, fazem um bem danado...rsrs
os três gostam de ler e, até onde eu sei, não tem problemas pra fazer contas de cabeça :)

natalia disse...

acho que o papai inventou esses castigos quando você já era grande, porque eu passei pelas tabuadas (1 ao 12, 12 vezes!), conjugação de verbo (12 vezes em todos os tempos verbais, incluindo uns que o papai me ensinou porque ainda não tínhamos na escola) e, finalmente, Lusíadas.